Este primeiro é da Lizzie Pohlmann, é um dos blogs que mais gosto e que mais visito. Seus textos são maravilhosos... entre tantas que eu adoro escolhi este: Vezenquandário.
Meu grito é inaudível, por certo. Continuo a correr sôfrega, contra a maré imensa e alta dos desencantos. Vejo passar a fúria e o silêncio… Eu tenho a obrigação de ser colorida. A vida, cinza. É, eu sei, de quando em quando invertemos os papéis e a vida fica tão azul e aqui dentro tão amargo. Não me agrada este devezenquandário de acasos, me dóem as repetições mas eu sei - é, eu sei que lá no fundo os sentimentos não mudam, nós é que mudamos. Eu sou mulher, viva. E por dentro sou mais viva ainda, porque a vida pulsa desenfreadamente em mim. Quero, sim, tirar dela até a última gota mesmo desencantada. Eu esqueço o tic-tac dos relógios e das incansáveis brigas com o tempo. Disseram-me uma vez que o tempo é interno, mas o tempo aqui -dentro de mim- é tão vago que quase inexiste. Queria dizer p’ra mim mesma que tudo passa, tudo passa… Um mantra p’ra esquecer as angústias e dormir em paz. Em pensar que tudo tende a ser subtração…Que cada barulho do pêndulo do relógio é um instante a menos de vida irrecuperável. Viver é irreversível.
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-Sabe, menina… Na tua ausência eu sinto falta do teu riso aberto.
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-Sabe, menina… Na tua ausência eu sinto falta do teu riso aberto.
-Sente?
-Sinto.
-Claro, pessoas sentem - nós sentimos, é óbvio.
Mas você me sente além do riso?
-Sentir, você?
-Você!
-Eu quase não rio…
-Não, a mim! Sentir a mim!
-Você se sente além do riso?
-Não, você!
-Ah, você me sente?
-Tá, eu sinto… Mas e você? Você me sente além do riso?
-Sinto…
[Silêncio]-…
-Às vezes sinto falta de mim.
-Eu também, menina.
-Sente falta de si?
-Não, de você. E dói.
[Silêncio]
-Me abraça?
-Sempre.
E ela ri aberto. Não é de alegria, é certo. Mas ri.
Lizzie Pohlmann
lizziepohlmann.com
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