sábado, 11 de outubro de 2008

Vezenquandário - Lizzie P.

Vou começar uma seção de posts alheios!rs

Este primeiro é da Lizzie Pohlmann, é um dos blogs que mais gosto e que mais visito. Seus textos são maravilhosos... entre tantas que eu adoro escolhi este: Vezenquandário.



Meu grito é inaudível, por certo. Continuo a correr sôfrega, contra a maré imensa e alta dos desencantos. Vejo passar a fúria e o silêncio… Eu tenho a obrigação de ser colorida. A vida, cinza. É, eu sei, de quando em quando invertemos os papéis e a vida fica tão azul e aqui dentro tão amargo. Não me agrada este devezenquandário de acasos, me dóem as repetições mas eu sei - é, eu sei que lá no fundo os sentimentos não mudam, nós é que mudamos. Eu sou mulher, viva. E por dentro sou mais viva ainda, porque a vida pulsa desenfreadamente em mim. Quero, sim, tirar dela até a última gota mesmo desencantada. Eu esqueço o tic-tac dos relógios e das incansáveis brigas com o tempo. Disseram-me uma vez que o tempo é interno, mas o tempo aqui -dentro de mim- é tão vago que quase inexiste. Queria dizer p’ra mim mesma que tudo passa, tudo passa… Um mantra p’ra esquecer as angústias e dormir em paz. Em pensar que tudo tende a ser subtração…Que cada barulho do pêndulo do relógio é um instante a menos de vida irrecuperável. Viver é irreversível.
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-Sabe, menina… Na tua ausência eu sinto falta do teu riso aberto.

-Sente?

-Sinto.

-Claro, pessoas sentem - nós sentimos, é óbvio.

Mas você me sente além do riso?

-Sentir, você?

-Você!

-Eu quase não rio…

-Não, a mim! Sentir a mim!

-Você se sente além do riso?

-Não, você!

-Ah, você me sente?

-Tá, eu sinto… Mas e você? Você me sente além do riso?

-Sinto…

[Silêncio]-…

-Às vezes sinto falta de mim.

-Eu também, menina.

-Sente falta de si?

-Não, de você. E dói.

[Silêncio]

-Me abraça?

-Sempre.


E ela ri aberto. Não é de alegria, é certo. Mas ri.



Lizzie Pohlmann

lizziepohlmann.com

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