quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Parabéns!

" When the dog bites, when the bee stings
When I'm feeling sad, I simply remember
my favourite things!
and then I don't feel so bad!"
(My Favourite Thing - Julie Andrews)

Se me perguntarem o que eu comi ontem, provavelmente não saberei responder. Não diria que minha memória é seletiva, diria que apenas registra os momentos mais importantes e, sinceramente, fico feliz que ela seja assim. Eu tenho certas lembranças de quando era criança que até me assusto por quão detalhistas elas me parecem. Chego a pensar que algumas coisas podem ter sido inventadas por meu cérebro, mas aí fecho os olhos, respiro fundo e percebo que se levantar a mão poderia sentir (tato) tudo novamente! E então não me restam dúvidas de que aquilo realmente aconteceu.

Lembro como eu ficava feliz quando acabávamos de almoçar e ele pegava uma pastilha garoto ou um batom para nos (a mim e a meu irmão) dar de sobremesa. Juro, eu não lembro de uma única vez em que ele não tenha feito isso.

Lembro a forma como toda tarde ele jogava "paciência" na mesa do quarto dele. Depois que ele morreu, todas as noites antes de ir dormir eu jogava pelo menos umas duas partidas desse jogo, no computador nunca gostei, mas com o baralho mesmo tornou-se um vício, por um bom tempo. Não sei dizer com sinceridade se eu gostava mesmo do jogo ou se era porque me lembrava dele. Conhecendo-me, ficaria com a segunda opção.

Não lembro, mas todos contam que ele me dava café na colherinha quando eu era bem novinha, e que eu adorava (será que isso explica meu vício por café? rs).

Lembro que todo dia no café da manhã ele fazia meu café com leite e colocava aveia.

Se me esforçar bastante, consigo ainda lembrar o cheiro da loção de barba que ele usava, consigo lembrar a blusa que mais gostava e o beijo na testa que me dava. Consigo senti-lo.

Lembro que todo final de semana ele sentava na varanda com uma bebida (wisky com gelo, se não me engano) e com torradas. E enquanto ele ficava lá sentando eu chegava por trás pra cutucar suas costas e me esconder atrás da porta. E ele, gentilmente, fingia me procurar. Depois me colocava em sua perna e ficávamos conversando.

Lembro que em um desses finais de semana, enquanto olhávamos o jardim aqui de casa, vi uma cobra rastejando entre uma das plantas que tinha na frente da varanda, era uma Corredeira (essas verdinhas, finas, e não muito grandes). Eu apertei a mão dele e ele disse "não precisa ter medo, ela é boazinha". Acho que foi a única vez que me senti segura perto de uma serpente... E a única vez que consegui ficar olhando fixamente sem chorar...

Lembro que ele sempre me dizia que não chegaria ao ano 2000.

Lembro dele cuidando da horta, e como eu fingia que ajudava porque queria ficar brincando com as ferramentas que achava bonitinhas por serem em miniatura.

E lembro principalmente, qual foi meu sentimento após segurar sua mão caída... Talvez só meu irmão entenda o que eu quero dizer... Mas eu me senti bem, me senti bem porque sabia que não o estava deixando sozinho, em um momento em que ninguém gosta de estar só! Eu poderia levar isso como uma lembrança ruim, mas poder senti-lo em seu último suspiro me confortou. E nesse momento eu pensei "ele não vai sofrer mais!"

5 comentários:

Anônimo disse...

Carol, lindo texto!!!!

Amei!! Super honesto, doce, delicado... Tenho certeza de que seu avô ficaria mto feliz em ler!!!

Mtos beijos!

Anônimo disse...

Chorei. :)

Lady Desdém disse...

Jú, brigado linda!!! Acho que ele ficaria feliz sim! Ah e valeu pela ajuda ortográfica... "o que seria de mim sem vc" né?rs

Bela, puts... imagino que vc tenha gostado entaum!rs Brigado viu? =)

Lana disse...

Carol,
Poucas palavras me prendem por mais de 15 minutos, poucas referências me fazem pensar.. Me reservo, então, a não comentar a maioria dos Blogs que passeio.. Acho que existem sintonias no universo e hoje você está na minha. LINDO texto. Leve, porém profundo como deve ser o humano do ser..
Beijos

Tainã Alcântara disse...

Lindo!


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